Consciência Situacional

Consciência situacional

Consciência situacional de forma simples e resumida é a capacidade de tomar decisões em situações de emergência. Esse conceito aparece com certa frequência textos sobre pilotos de avião, porém a consciência situacional também pode ser empregada em nosso cotidiano.

Há dezenas de explicações técnicas sobre o assunto internet a fora, a grande maioria em inglês, mas boa parte são como um manual técnico sobre o assunto, com argumentos científicos explicando sobre o que acontece com nosso corpo e mente durante uma emergência.

Mas o objetivo deste artigo é ser mais um guia prático do que teórico sobre o assunto, para que você consiga entender e aplicar em certos momentos do seu cotidiano.

O que é Consciência Situacional?

A consciência situacional é a habilidade de buscar por ameaças no ambiente ao seu redor para que você se precaver ou tomar as medidas necessárias para controlar a situação.

Sem “tecniquês” e sem argumentos científicos… apenas consciência e atenção.

Ok, mas o porquê saber isso?

Bem, de uma perspectiva de preparação e sobrevivência, de certa forma é bem óbvio. A simples capacidade de reconhecer ameaças e saber como se portar para se proteger é umas das habilidades mais importantes para a sobrevivência.

Se você conseguir identificar uma ameaça antes que ele chegue até você, você estará uns 95% à frente das outras pessoas, permitindo que você chegue a um local seguro sem tumulto e antes das demais pessoas.

Infelizmente, nos dias de hoje, esta habilidade se torna cada vez mais necessária de se conhecer e saber aplicar.

Vivemos em um mundo onde as pessoas vivem constantemente distraídas, com seus celulares na mão, sem prestar atenção ao redor. Ou até mesmo andando com fones de ouvido, se isolando do mundo.

Então, devo ser paranoico? Achando que tudo e todos são uma ameaça?

Pode parecer que seja isso e que muitas pessoas possam te julgar desta forma, afinal de contas por que se preocupar com o que pode acontecer?

Se você está de certa forma preparado e atento ao que pode vir acontecer, você não fica paranoico, apesar de contraditório e estranho basicamente é isso que acontece, pois você fica tranquilo sabendo que se acontecer X coisa, você pode fazer Y. Como diz aquele ditado “seguro morreu de velho”.

Um exemplo, do porquê a consciência situacional é importante

Vamos colocar o que falamos até agora em um exemplo:

Você está no cinema com sua família, amigos, namorado, namorada, ou com quem for. E de repente começa a tocar o alarme de incêndio.

Nesta situação a grande maioria das pessoas entram em pânico.

Várias coisas começam a acontecer, crianças começam chorar, os adultos se levantam e começam a se empurrar para sair o mais rápido possível passando um por cima dos outros, um empurra-empurra para todo o lado. Em resumo um verdadeiro caos.

Se você estiver preparado, consciente da situação, você provavelmente teria sentido o cheiro da fumaça, teria levantado com sua família e ido em direção da saída mais próxima, que você já tinha visto no momento que entrou na sala de cinema.

Claro que tudo pode ter sido um alarme falso, se este fosse o caso, você e sua família não teriam sido machucados pela correria das outras pessoas. Isso porque o exemplo foi de um incêndio e não de um tiroteio, que convenhamos, teria sido ainda mais real com relação aos dias atuais.

Quais os níveis de consciência situacional?

Podemos dividir a consciência situacional em 3 partes ou níveis. Confira quais são eles:

1. Percepção da situação

Parte do princípio de conhecermos a situação que nos encontramos, que se dá por meio de processos de percepção e atenção. Se não estivermos atentos o suficiente, não conseguiremos entender o que acontece no contexto geral. Por exemplo, quando andamos e mexemos no celular ao mesmo tempo não prestamos atenção em boa parte do que acontece ao nosso redor.

2. Avaliação da situação

Não basta apenas estar atento no que acontece ao redor, o segundo nível consiste em entender o que de fato está acontecendo. Devemos interpretar as informações coletadas, como sempre digo “Não basta ler um texto, precisa interpretá-lo”.

Na grande maioria das vezes a interpretação do que está acontecendo é praticamente instantânea, sem muito esforço, uma vez que identificamos os padrões-chaves. Mas há alguns casos que devemos nos esforçar um pouco mais para entender o que está acontecendo, quando estamos em um ambiente que não é de costume.

3. Tomando uma decisão

A consciência situacional não é um exercício para contemplar o ambiente, e sim de tomada de decisão. Após entender o que está acontecendo precisa ter uma decisão do que deve ser feito, mesmo que seja ficar parado onde está e fazendo nada, por ter entendido de que está seguro.

A consciência situacional é um processo que determina nossa resposta a diversas ocasiões em nossa vida. Nos ajuda a decidir se em determinados momentos é melhor falar ou ficar quieto, agir ou não agir.

Ter a habilidade de usar a consciência situacional no dia a dia é muito importante inclusive no trabalho. Há um estudo da Baylor College of Medicine, Houston, Texas – EUA, constatou uma frequência de erros em diagnósticos ambulatoriais, eles concluíram que havia uma taxa de erro de 5,08%, o que representava aproximadamente 12 milhões de adultos. Fica evidente uma certa falta de atenção nos processos desses diagnósticos.

Como desenvolver a consciência situacional?

Ok, você chegou até aqui e entendeu o que é, para que serve, quais os níveis, mas deve estar se perguntando como que você consegue desenvolver a consciência situacional, certo?

Desenvolver essa habilidade não é tão complicado, que só profissionais de alta-performance, pilotos ou militares conseguem desenvolver. Mas, não vou dizer que é algo simples, que em poucas horas você masteriza e pronto.

Dê tempo ao tempo, que aos poucos isso vai se tornando um hábito ao ponto de não ter que ficar se policiando para fazer alguns desses exercícios que vou passar a seguir.

Ah! Vale lembrar que isso não é viver em constante medo e paranoia. Sei que disse que essa habilidade não é tão complicada de se ter, mas querendo ou não é algo que você desenvolve e seu subconsciente acaba automatizando boa parte das ações.

“Algo me diz que isso vai dar errado”, é como se fosse isso, um pressentimento, instinto, um sexto sentido, chame como bem quiser.

No tópico anterior falamos que são 3 níveis, certo? Então vamos dividir os exercícios em 3 também, para ficar mais simples de entender.

1. Masterizando a Atenção Plena – Mindfulness

Para que você consiga entender o que é a atenção plena, preciso te mostrar de onde veio esse termo, ele normalmente aparece em práticas de meditação, artes marciais, Yoga, budismo e entre outros.

E para essas práticas a atenção plena é estar presente no “aqui e agora”, é estar presente no momento, e para isso você precisa estar livre de estresse para que seja possível estar atento no ambiente e em tudo que acontece ao seu redor.

Em muitas terapias, que tratam de estresse e ansiedade, este termo é abordado para que o paciente se livre de seus medos e angústias, e comece a viver o momento, apenas aproveitar a vida.

Tá! Mas para eu desenvolver a atenção plena vou ter que começar a meditar, virar budista e fazer terapia? Não estou dizendo isso – apesar de meditação ser uma prática que recomendo – o que estou querendo dizer aqui é que você precisa esquecer suas preocupações e prestar atenção no que você está fazendo no momento.

Quantas vezes não cometemos pequenos erros durante uma tarefa por estarmos com a cabeça em outro lugar? É isso que me refiro, esse conceito de estar no “aqui e agora” também acontece nas artes marciais e sempre que você perde a concentração acontece alguma coisa, normalmente não é nada bom para o seu lado… rs.

2. Análise sincera e identificando ameaças

Bem, você entendeu que para realmente prestar atenção no que acontece ao seu redor, você precisa estar focado nisso, agora precisamos analisar o que está acontecendo para então tomar as devidas providências.

Análise do ambiente

Vamos começar pelo ambiente, e para isso vou contextualizar com um exemplo, ao entrar em um restaurante olhe ao redor e analise o que está acontecendo, há alguns casais sentados em um canto, há uma mesa grande com várias pessoas e por aí vai. Este exercício, pode até te ajudar a escolher uma boa mesa.

E depois procure por possíveis ameaças, do tipo, se um assaltante aparecer, ela provavelmente irá direto para o caixa, então evite sentar-se perto dele. Se acontecer um acidente na cozinha, como um estouro de um botijão de gás, isso será um problema para você onde estiver sentado? Você tem visão da entrada do restaurante para ver que entra nele? A lista é longa, então foque nas principais ameaças que você julga ser importante.

Mas lembre-se que essas análises e ameaças precisam ser sinceras, logo se a cidade que você está é simples e quase não há histórico de assaltos, então esta não precisa ser uma das ameaças com que se preocupar primeiro.

Aos poucos você vai criando uma certa preferência de locais para se sentar no restaurante, nos bares, de ruas e avenidas para dirigir. Até mesmo de como estacionar na sua garagem, de frente ou de ré.

Análise das pessoas

Uma vez que você já analisou o ambiente agora precisa analisar as pessoas que estão nele, mas antes de começar já aviso que essa análise pode parecer um pouco preconceituosa de início, mas você vai entender o porquê.

Traçar perfil de pessoas é alternativa aceitável!

O que isso quer dizer? Significa que ao traçar o perfil das pessoas você consegue julgar se ela pode ser ou não uma ameaça para você. E para isso você acaba analisando as roupas, os acessórios, enfim você acaba analisando aparência das pessoas.

Como havia dito, isso poderia parecer um pouco preconceituoso, pois você nem conhece a pessoa a já está julgando que ela pode ser um criminoso ou algo do tipo. Mas querendo ou não há certos perfis que se enquadram em boa parte dos criminosos.

A criação desses perfis não tem a ver com a raça, e sim com a aparência. Pense na seguinte situação: você está saindo do banco, e perto da porta tem uma senhora negra que aparenta ter seus 80 anos e está com uma bengala, e um jovem de roupas largas e rasgadas, meio sujas, com aparência desleixada. Qual deles pode te apresentar uma ameaça?

Note que nem se quer mencionei a cor da pele do jovem em si, e provavelmente ele foi uma das possíveis ameaças que você julgou. Como havia dito, pode ser preconceituoso, mas querendo ou não isso pode te ajudar em algumas situações.

De forma geral analisar o ambiente e as pessoas, é mais um exercício mental do que físico, com isso você consegue treinar o tempo inteiro e ir elencando os possíveis riscos e ameaças e a prioridade deles.

3. Táticas, jogos e treinos

Você já entendeu como que funciona o processo de prestar atenção ao seu redor, entendeu o conceito de como analisar e identificar possíveis ameaças. Então agora chegou a hora de agir, certo? Certo! Porém não é disso que vou falar e você vai entender o porquê.

Vamos voltar ao exemplo do banco: você foi ao banco e ele está cheio, faz as possíveis análises e identificou as ameaças, e uma delas era de um possível roubo, onde os assaltantes não estão dentro do banco e sim invadem ele. Tudo certo até aqui, nada com que se preocupar até o momento. Porém essa ameaça se torna realidade, e de fato uma gangue invade o banco, qual seria sua reação?

Veja que não há um certo e errado, cada caso é um caso, para alguns pode ser fugir, pois estão perto da porta; para outros, pode ser abaixar e ficar no chão, já que fugir não tem como; ou então, tentar entrar o mais rápido para dentro do banco, pois aí tem mais uma camada de proteção, há inúmeras coisas que poderiam acontecer.

Por este motivo não tem como eu dizer o que seria a ação que você deveria tomar. Isso é algo que cabe a você analisar e dizer.

Mas, para não terminar este tópico com um “se vira”, vou listar algumas dicas e ideias de como treinar até que a consciência situacional seja de fato um hábito para você. Vemos lá:

  • Transforme o exercício em um jogo, se você tiver filhos é interessante incluí-los nesse processo. Por exemplo – sim, mais um exemplo – ao entrar em uma loja, tente identificar os pontos de saída e quantos são logo que entrar nela, quase que imediatamente. Depois tente procurar os obstáculos que estão entre você e os pontos de saída, assim como as possíveis ameaças.
  • Comece a observar as pessoas, e tente identificar alguns padrões, pessoas que estão prestes a realizar algum roubo, tendem a ficar mais tensas e ansiosas, fazendo com que elas se movimentem mais e começam a transpirar.
  • Limite a quantidade de distrações quando estiver em público, não estou dizendo para não usar o celular, mas sim entender que há hora e lugar para se distrair e na rua não é um lugar desses.
  • Por fim, confie em seus instintos. Mesmo que você possa estar errado, no final das contas estar atento a eles é importante.

Espero que tenha entendido o porquê ter a habilidade de consciência situacional é importante e como desenvolvê-la. Outro ponto importante é que esta habilidade é extremamente necessária para quem resolve adotar um estilo de gray man.

Raphael Bionde

Raphael Bionde

Praticante de Aikido há mais de 15 anos, amante das artes marciais, entusiasta do mundo tático e do sobrevivêncialismo. Curte a cultura japonesa e nórdica.

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